A vida de Débora era uma canção e um passo de dança. Débora era uma menina calada, sem problemas de saúde nem nada que comprometesse os estudos que, por sinal, iam bem. Uma coisa era certa: ela gostava de ouvir músicas, independente do estilo. Débora ouvia de Sérgio Reis à Cindy lauper e todas as romanticidades possíveis. Quando ela tinha dez anos, lembra-se claramente de ter ido à uma cidade próxima comprar vinis. Os discos de vinil eram vendidos em lojas especializadas e, nesse dia, compraram o de Juan Luis Guerra. Não havia nada melhor do que ouvir La Bilirrubina. Além deste, outros atraíam a pequena Débora, principalmente o vinil com a trilha sonora do filme Flashdance, o qual assistira partes na televisão. Ouvia-o dias e dias sem fim, adorava o clima que a música proporcionava e como chegava e tocava em seus ouvidos. Mas isso não era tudo. Débora queria era deslizar na pista como a atriz Jennifer Beals, de forma livre e solta. Liberdade era uma palavra que a definia quando ouvia Flashdance... What a feeling. Não entendia a letra nem precisava entender. Seus pés e corpo sabiam muito bem o que a canção queria dizer. Quando seus pais saíam e a deixavam sozinha em casa, era o momento adequado e, claro, de glória. Ligava o som, colocava o vinil com o maior cuidado após ter limpado e soprado quaisquer resquícios de poeira e, enfim, coloca o vinil para tocar. Nesse momento, se reconhecia mulher e passo. seus pés agitavam-se sem cerimônias, suas pernas tornavam-se mais longas e seu corpo passava a ser o de uma mulher, rica em sentidos, pois tateava tudo sem precisar das pontas dos dedos. Quando ouvia algum barulho no portão, sentava-se rapidamente no chão e seguia a vida como se nada nunca tivesse acontecido. Débora era livre, assim preferia pensar... pelo menos enquando ouvia a trilha sonora do filme. Sentir-se dentro dele era uma tática para poder abrir as asas. Os anos podem ter passado para Débora, mas a ânsia por liberdade continua e ainda se materializa em trilhas sonoras deste e de tantos filmes outros. Na verdade, sua vida também tornara-se um filme, só que sem diagramação.
Lu Rosário
What a feeling, bein's believin'
I can't have it all, now I'm dancin' for my life
[Irene Cara]
Lu Rosário
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2 comentários:
Ah, a música´e mágica. Eu, no caso, nao peguei a época dos discos de vinil, mas meu avô e meu padrasto possuem vários!
A música também tem esse poder sobre mim, apesar de eu não sair dançando em casa. rs
Beijos.
a liberdade que a música nos dá, o bailado, o sonho...um lindo texto para rodopiar!
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