Helenices

Helena gosta do inusitado e da multiplicidade de cores. Helena sempre soubera da sua preferência por todas as cores misturadas e vívidas. Entre preto e azul, preferia o azul. Entre as tonalidades do azul, não sabia qual escolhia, pois gostava de todos os azuis em um só. Principalmente quando a cor era essa, que tanto lembrava o céu com e sem nuvens. Sua vida também era colorida, sentia-se esverdeada quando respirava esperança e amarela quando estava com cólicas. Menstruação a faziam ficar vermelha e cansaço deixavam-na roxa. Além de toda essa miscelânea de cores e sentidos, Helena também era uma pessoa inusitada. Surpreendia mesmo sem querer. Quando alguém dizia algo surpresa pensando que ela ia dar um ataque, simplesmente Helena não demonstrava nenhum impacto. Seguia tranquilamente naquela conversa e com nada se importava. Quer dizer, com quase nada. Algumas vezes as pequenas coisas surpreendiam-na. De aparência frágil, ela era confundida com aquelas que estavam começando a conhecer a vida, mas com Helena não era bem assim. Difícil surpreendê-la, normalmente era o inverso que acontecia. Helena gostava de cores e vivia na corda bamba do sentires e do fazer sentir. Certa vez, Helena escrevera poema em papel branco, letras rosas, olhar amarronzado e pele pintada de todos os alaranjados secundários. Esse poema fora entregue à um professor com mãos amareladas para ser lido à uma paixão que mal a conhecia (coitado!). Desse dia em diante, ela passou a ser cores, sensações e poesia. Ao menos o professor e a paixão passaram a vê-la assim. Ainda não sabem, tadinhos, que Helena esconde uma infinidade de helenices dentro de si - todas sortidas e inusitadas. Helena, então, segue sorrindo, ironicamente ou não, e repete para si mesma: É a vida.

Lu Rosário




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