Tarsila tinha problemas, tantos e tantos que não sabia por onde e como saná-los. Eram dívidas e retardos de épocas em que fazer aquilo era a melhor opção. Sua vida parecia um poço de problemas que não podiam mais ser adiados. Tarsila pensava e repensava cotidianamente em formas e em traços desfocados, achava que a partir dos contrastes encontraria a exatidão. Menina, reconhecia-se mulher, e não sabia mais o que era ter a cabeça livre e o coração aberto. Seu coração, coitada, já havia sido algumas vezes massacrado e vivia armado contra outros repentinos acessos. Tarsila dizia permitir a vida seguir seu curso, mas tinha medo de paixões avassaladoras. Disponibilizava-se, retraindo seus impulsos e acelerando seus pensamentos na busca da racionalidade. Tarsila tinha muitos problemas que, quem a via, descobria. Apesar dos seus pesares, sabia que uma decisão poderia ser a melhor: viajar. Viajar sem avisar à ninguém, sem deixar bilhete, sem passar endereço, sem precisar ligações. Viajar para esquecer do mundo, do fundo de onde veio. Viajar. Pensava em abrir os braços, sentir outros ares e realmente se deixar levar. Viajar sozinha e sem direção. No entanto, a razão a trazia à realidade e sabia que tal decisão não lhe seria possível porque viajar sozinha poderia lhe dar tédio e exigiria dinheiro. Mudando de planos, Tarsila não podia deixar de desejar tanto o encontro consigo mesma. Então, pensava em viajar em curto período de tempo e acompanhada de alguém que lhe fizesse bem. Dessas viagens para rir, sair da rotina e esquecer um pouco de tudo. Dessas para não ter que ver as pessoas de sempre, para não ter que falar nem ouvir telefone tocar, nem entrar em facebook e nas internetes da vida. Dessas para ficar uma hora ao lado outro sem dizer uma palavra e, nesse intervalo, dizer tudo. Queria era jogar-se e, por dois dias, sentir o infinito em suas mãos. O que ela não sabia era que mais do que isso, seu nome significava "corajosa" e para tudo o que lhe faltava, bastava acrescentar coragem e otimismo às possibilidades dos seus devaneios.
Lu Rosário
Esta publicação pertence ao Prosas Poéticas.
Todos os textos publicados em forma de prosa e contada de forma poética
se encontram aqui. Sinta-se à vontade para conhecer os outros textos
concernentes à esta categoria.
7 comentários:
Gente megaaaaaaaaaaaaaaa perfeito!!!!! Amei!!!
Paolla.
Tarsila era comum, Tarsila era mulher.
Ainda acredito na Tarcila, seu nome coragem não é por acaso! Até já disse isso a ela, se ela quer, ela pode!
"Sentir o infinito em suas mãos..."
É só disso que precisamos.
Beijos.
Fica com DEUS.
Nossa... senti-me tão Tarsila.
E este texto tão clariceano...
Lindo!
Bjos
Não basta saber o que se precisa, é necessário por em prática. Pé na estrada Tarsila, Coragem e Otimismo a seus sonhos, o resto a vida se encarrega de preencher.
Ótimo texto, devemos ter coragem para enfrentar o inusitado, devemos dar tempo ao tempo, ele ajuda a curar mágoas e repor as energias. A vida é uma constante mudança, mas é tão linda e complexa.
beijoos
Postar um comentário