Concluí de mim...

É certo que há folia em todo carnaval, dentro e fora  da gente. E que se chove, a chuva é aqui - no íntimo. Ou se chover, que seja alegria e esbanjamento. Expandir torna-se palavra de lei. E nesses entremeios entre folia e entrega de corpos, há que reconhecer a sensualidade pelo sorrisos, pelo movimento, pelo cruzar-se. Entretanto, nem todo mundo mostra-se tão saliente em seu olhar e provocar. E foi assim que carnavalescamente me senti: ínfima. Sabia o quanto eu não era sensual, o quanto meu olhar, minha dança, meu andar não atraíam. Sabia, inclusive, que minha seriedade retraíam a beleza que existia em mim. E a cada dia desta folia desvairada, percebia que havia algo que me continha e limitava até o último nó. Estava presa em mim mesma, numa preguiça de si da gota serena.

  Ainda assim, havia carnaval dentro de mim e diante de todos os quetais, havia também quem me achasse triste ou, quiçá, encalhada pela falta de beijo na boca, afagos e afetos maiores. Mas, na verdade, o que existia era uma Lu Rosário escondida e com todos os mistérios que a escrita dela revelava. E foi aí que eu concluí o quanto a minha escrita me complementa e o quanto eu passo a ser sensual, gostosa, provocante e sedutora quando o outro assim me conhece e em tudo me reconhece. É por isso que antes prefiro conversar e me fazer ler em outros sentidos para só assim permitir que o outro tenha algum conceito a meu respeito. Quem não me conhece, que me compre - não é assim o ditado?

♪ ♫ De manhã escureço

De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo ♪ ♫ 

[Poética/Vinícius de Moraes]