sexta-feira, 22 de março de 2013

Amor Barato

Foto: Adenor Gondim| TCA













Não é de agora que conheço a fábula O Casamento de Dona Baratinha, na qual Dona Baratinha, enquanto varria o chão, achou um dinheirinho. E esse dinheirinho virou um dinheirão, pois comprou tudo o que queria e guardou o troco em uma bolsinha de cetim. Pretendendo casar-se, foi para a janela e pôs-se a cantar: "Quem quer casar com a Dona Baratinha, que tem fita no cabelo e tem dinheiro na caixinha?" O seu pretendente mais admirável foi o Dom Ratão com quem noivou. No dia do casamento, ao pisar no tapete vermelho que a levaria ao altar, Dom Ratão não se encontrava porque estava na cozinha de olho na feijoada. Só que um fato inesperado aconteceu e ele caiu na panela de feijão. Envergonhado, foi-se embora. Desse dia em diante, Dona Baratinha tornou-se mais exigente e continuou a cantar na janela à procura de um pretendente.

Essa história, para o século antepassado e até mesmo para hoje, é bem crítica, não é? A gente percebe o quanto o dinheiro não deve comprar ninguém, bem como podemos observar a questão da solidão e do respeito ao outro. Só que esta fábula permitiu ir além do que é dito em sua primeira versão, pois outras estórias foram criadas a partir dela e Amor Barato¹ é um espetáculo teatral que recontextualiza-o, trazendo à contemporaneidade. Neste, Dona Baratinha descobre que seu pai é pedófilo e abomina-o. Desiludida, vai beber em um bar e é atropelada por Dom Ratão ficando presa em seus pelos. Ela, então, apaixona-se por ele e o sentimento é recíproco.

Dom Ratão é um rapaz rebelde, filho de um político, aliás, corrupto, e de uma mãe boêmia. Ao viver em uma família desestruturada e com todo apoio da mãe, Dom Ratão vai em busca do seu novo amor. No dia do seu casamento, ele sente o cheiro delicioso da feijoada e se aproxima do caldeirão caindo dentro dele. Dona Baratinha fica arrasada e também acaba morrendo no fim do espetáculo. Ela morre na cadência do samba e esse amor entre eles não passará de um amor barato com tons de realidade. Amor Barato é um musical, cuja beleza e crítica à sociedade é inenarrável. Com o cenário que se assemelha a um esgoto e com personagens considerados asquerosos, quais as outras similaridades que há entre eles e nós? São tantas que um curto espaço como este não dariam conta. Para quem tiver a oportunidade de assisti-lo, aproveite! Tal como cita o seu autor e diretor Fabio Espírito Santo, "a vida tem lá seus descuidos!".


¹ O espetáculo recebeu quatro indicações ao Prêmio Braskem de Teatro 2012. A programação para as próximas apresentações encontra-se no site Amor Barato.



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