segunda-feira, 8 de abril de 2013

Relacionamentos poéticos

Há quem entenda o relacionamento como um jogo de afinidades e, para ser mais específica, há quem acredite que artistas precisam se relacionar com outros artistas porque dessa forma pode rolar uma inspiração de abrir os lábios. Conversando com uma amiga, que escreve poemas lindamente, ela me contou a seguinte pergunta que lhe fizeram: "Por que você não se interessa por alguém assim...diferente? Que não seja da arte?" Ela me disse ter refletido sobre o questionamento e se perguntado: "Como eu poderia me interessar por alguém que não mantêm minha mente acesa e minha alma viva para que o meu corpo possa desejá-lo?! Como poderia encantar-me por quem não saiba o valor de um toque?" Entretanto, eu respondi que para mim o que agrada é justamente o contrário, pois eu nunca me relacionei com ninguém que fosse das artes e, ainda assim, me inspirei e suspirei a cada toque.

A poesia parece possuir variações de níveis naqueles que a escrevem. Nesta minha amiga, ele atinge um nível máximo posto que ela compreende o outro, voltado às artes, como um ser cujas saliências e delícias são bem mais valorosas. Porém, eu não consigo me colocar deste modo. Para mim, a poesia está naquele que, apesar de ser bem inteligente, às vezes mal tem o costume de ler quanto mais escrever. Acredito até que o meu nível poético esteja abaixo das expectativas porque eu nunca me envolvi com ninguém que tivesse sangue artístico correndo nas veias, pelo contrário, eles são os que menos me interessam porque mostram-se românticos demais e eu não tenho paciência para tanto romantismo. Na minha concepção, os poetas fazem sexo beijando minimamente seu corpo e declamando em seu ouvido - isso é um pouco chato. Sabe do que eu gosto? Do sexo que invade todos os sentidos, que não tem piedade nem versos. Eu gosto de transar com versos silenciados. Gosto de sentir apenas, mesmo gostando da comunicação sussurrada [ouvir e falar tantas outras coisas que soam ser antipoéticas]. Gosto, principalmente, de conversar besteiras e sair para lanchar ou beber alguma coisa num boteco qualquer, gosto de bater altas resenhas e de rir do nada.

Abstrair demais e viver compartilhando sonhos, criando expectativas ou buscando inspiração juntos não é comigo. Sou pé no chão demais, adoro andar me arranhando pelos muros encaroçados da vida e se permitir a isso com um outro tão ingênuo nas artes torna-se uma gostosura, cuja inspiração não tem limites. Então, amiga, ficamos nessa divergência de opiniões e qualquer dia eu tento me envolver com algum poeta, dançarino, cantor, pintor ou qualquer dessas coisas, quero ver se eles têm pegada mesmo e se o seu toque é menos suave e mais vívido. Depois eu conto minha experiência para vocês, despudorados! E aos de alma artística, como entendem esse relacionar? Estou curiosa para ouvir outras opiniões! Oh, vergonha aqui a gente joga pro beleléu, ta? 

5 comentários:

Beto Ribeiro disse...

Olá Lu, menina linda!!!!

"Tenho em mim, todo sonho do mundo..." [Fernando Pessoa]
Ao pé do ouvido fala-se sandices que fazem arrepiar os últimos pelo do corpo... Isso é poesia que se escreve sem texto...

"Amor é fogo que arde sem se ver..." [ Camões]
Depois de um olhar que faz despir a alma, o corpo queima transformando o não em sim, e os "muros encaroçados" em lençois de seda macia...

Bem lindinha, a poesia pra mim é o que se faz com a vida que se tem nas mãos, seja num muro ou num sofá, num piano bar, ou num boteco cospe grosso, enfim, a poesia e você, sou eu, é sua amiga ou quem ela possa um dia se relacionar... A poesia e a arte, são as próprias vidas, que cada um escolhe trilhar...
Acredite, o sangue de um poeta, escritor, ator, artista que transpões as críticas deixando aflorar sua melhor parte, pode ser um amante perfeito para quem possa pelo menos uma vez, se deixar tocar sem restringir o amor que ele possa carregar...

Adoro seus textos.... Lindos sempre!!
Beijo grandão, fique com Deus!!

Beto Ribeiro.

O Neto do Herculano disse...

Posso até ser poeta, assim alguns insistem em me categorizar, mas não faço "sexo beijando minimamente" nem declamando no ouvido. Meu sexo não cabe num verso.

Luís Paz disse...

É um tipo de pensamento arbitrário, no qual eu penso demasiadamente semelhante. Sempre vejo algo a mais em artistas. E isso chega a um ponto inexplicável. Posso estar sendo presunçoso me introduzindo nesse espaço, nessa roda de pessoas artísticas, mas me sinto íntimo, e sem dúvidas os 'não-artistas' pecam por algo inato, que não tem culpa, mas que nascem pré-julgados já.


Hey te aguardo pra um comment lá ^^
diademegalomania.blogspot.com

valeeeu

Anderson Oliveira disse...

Boa reflexão... Ao meu modo de ver, não está no "artista" o prazer de quem tem tal alma, mas no olhar que ele, o "artista" imprime ao ato. Não faço sexo com a arte. O sexo para mim é uma arte!

Claudio Chamun disse...

Eu concordo que o relacionamento é um jogo de afinidades, pois tem que ter afinidade para ter um relacionamento, mas estas afinidades podem ser as mais diversas coisas. Não precisam ser na arte.
Eu posso tocar em você e você não sentir nada e com o mesmo toque levar outra mulher as nuvens. Tem o cheiro, a voz, o calor, tudo é química que tem que ter afins para rolar a explosão.
O que menos rola nestas horas é se é artista, médico, professor etc..

Copyright © 2014 | Design e C�digo: Sanyt Design | Tema: Viagem - Blogger | Uso pessoal • voltar ao topo