quarta-feira, 8 de maio de 2013

Olhares (díspares).


Haviam dois olhares, em que um deles desviava-se do outro. Com Zara era assim, um revirar para não mostrar-se inteira. Zara percebia nela uma provocadora delicadeza, daquele jeito pronto de quem se coloca sob sutilidades. Havia em Zara um entender o outro ou, particularmente, aquela que se atrevia a olhá-la. Havia naquela um dedicar-se intenso ao que Zara sem querer propiciava. Inclusive, Zara sentia-se desconfortavelmente estranha. Não sabia como lidar com famintos olhares femininos. Se na vida existia os ineditismos, era este o momento que considerava inédito na sua vidinha tão cotidiana. Zara não era linda, nem corpo violão nem alguma canção lírica. Aquela era exatamente o seu contrário e, nesse paradoxo, mais dúvidas lhe causava. As diferenças não eram meramente físicas, iam além de qualquer invólucro. Havia estranhamento e maestria em cada gesto ou atitude previamente pensada. Entre os olhares, o desvio. Entre os corpos, a semelhança. Entre os desejos, a disparidade.

♪ ♫A linguagem dos olhos 
O corpo sabe decifrar ♪ ♫
[Péricles]

                                                                                                                         

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