quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Está em minha pele

Não é de hoje que a cor da minha pele chama a atenção, que o meu cabelo desperta olhares e que a única profissão que me apontam é a de empregada doméstica - não que esta profissão seja pior que as outras - mas, infelizmente, ela é bastante desvalorizada e encarada como aquela que abriga mulheres sem estudos. Infelizmente, uma boa parte das mulheres que trabalham como tal são negras. Tão infelizmente quanto é saber que pessoas de pele negra nem sempre ganham o mesmo valor de alguém de pele branca, mesmo que ocupem os mesmos cargos profissionais.

Um país tão miscigenado quanto o nosso ainda abarca uma gama imensa de preconceito racial. A cor da pele é vista como uma forma de julgar e categorizar o indivíduo. Assim, temos rótulos e somos divididos em "raças". Caráter, personalidade, conhecimento e todas as outros aspectos parecem não ser importantes para aqueles de mente diminuta. É imbecilidade demais conceitualizações pré-estabelecidas. Sempre estudei em boas escolas, vesti boas roupas e, atualmente, estou na segunda graduação: até aí, diriam tudo bem. Porém, eu também tenho cabelos crespos e pele negra. Quando adolescente, sentia a diferença entre eu e as outras meninas. Sempre fui vista como um intermédio para que os rapazes se aproximassem de minhas amigas. Nas festinhas, nunca era chamada para dançar. Segurar vela era o meu forte.

Hoje em dia, as coisas estão mais claras: questionam à minha mãe se trabalho com ela, vizinhos perguntam se trabalho no prédio, outras pessoas acreditam que sou parte da profissão que tanto inferiorizam. Minha mãe se sente constrangida, eu me sinto relegada. Devem pensar também que eu nunca estudei, que eu mal sei escrever ou que sou algum tipo de ignorante. Só hoje entendo porque eu era a única que nunca paquerava, aquela que nunca encontrava ninguém na balada. Só hoje entendo o porquê muitos negros lutam por igualdade e, assim, reconheço o papel dessas lutas. Hoje em dia, não tenho duvidas do quanto devo correr atrás, do quanto devo cuidar da minha aparência e do quanto é importante manter a auto estima elevada. Uma palavra chave seria personalidade. Com isso, você nunca vai ceder às palavras inúteis dos idiotas de plantão e, também, saberá dar respostas adequadas às situações exigidas. Compreender isso é ter maturidade. Está em minha pele, o orgulho da cor. Está nela, a minha saliência. Não gostou, meu bem? "Ama-te a ti mesmo" ou vá atrás de uma otária: pessoas inteligentes reconhecem a igualdade em todos os sentidos.

Cor da pele é só uma maneira de mostrar que, apesar de tudo, também somos lindamente diferentes - assim como temos diferenças de caráter e outras formas de sentir. Quando julgarem-no antecipadamente, seja elegante: reagir com outro apontamento preconceituoso é pagar com a mesma moeda. E você, querido, não é da mesma laia que essa gentinha. Saiba sair pela tangente com educação. Imponha a sua sapiência. Depois disso, não falarão mais de você. Se continuarem falando, lembre-se que discriminação passou a ser crime e uma passagem pela polícia vai deixar qualquer um de cabelos em pé...hahaha. No dia que eu fazê-lo, pararão de me julgar antecipadamente. Enquanto isso, vou sair por aí ignorando certas colocações. O que está em minha pele é bem mais do que isso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótimo texto Lu!!!

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