domingo, 6 de abril de 2014

#eunãomereçoserestuprada

Antes de mais nada, quero dizer que estava morrendo de saudades daqui. Ai, gente, ficar sem escrever é "o ó" e voltar a escrever é o "ó do borogodó" - ou seja, bom demais! Mas sim, toda a polêmica está rolando e os protestos acontecendo nas redes sociais. As mulheres estão mostrando a cara e trazendo, sobre a pele ou em cartazes, a frase "Eu não mereço ser estuprada" - lindo de morrer. Como todos já devem saber, a polêmica surgiu após os resultados do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) nos quais constam que 65% dos brasileiros concordam, total ou parcialmente, que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". A partir disso, a jornalista Nana Queiroz criou a campanha "Eu não mereço ser estuprada". O movimentou tomou corpo e as mulheres passaram a se mostrar e reivindicar seu direito de se vestir do modo como quer e de também agir como quiser, sem que ninguém a critique por isso ou sem que um homem a abuse por meio de palavras, olhares ou mãos que não reconhecem seu lugar. Após tantas polêmicas, houve aqueles que, buscando retirar o foco sobre a campanha realizada, argumentaram sobre a possível mal leitura em relação aos dados disponibilizados pelo IPEA ou a provável manipulação do resultado. Acontece que após tanto bafafá, o instituto lança uma nota apontando erros em seus resultados e apontando que, em vez de 65%, são 26%. Mas e daí?

Alguns insistem em relacionar a campanha com números, resultados, manipulações de respostas presentes na pesquisa, com mal entendidos. Alguns insistem como se quisessem acabam com isso de uma vez por todas e mudar o assunto da vez nas redes sociais, mas a coisa não é tão fácil assim. Este está sendo um momento particular na história. A partir da campanha "Eu não mereço ser estuprada", muitas mulheres resolveram relembrar histórias de vida e externalizá-las. Coisa boa, não é? E mais do que isso: essas e tantas outras mulheres estão começando a perceber que a culpa de todo disparate masculino não é dela.  Se um homem a chama de gostosa na rua e faz aquele som de quem ta chupando caroço de manga, não é porque ela está vestindo uma roupa curta para provocar. A culpa disso é a ignorância, a falta de respeito e o machismo que rondam nossa sociedade. Essa não culpabilização e esse aceitar-se dos seus modos de sentar, suas roupas mais ousadas e seu jeito mais despojado é o que há de mais gostoso e o que nos liberta, nos torna mais leves.

Vocês acham o quê em relação a mim? Como toda mulher, eu ando na rua e os homens me gritam, me falam obscenidades, alguns insistem pelo número do meu telefone e outros, mais atrevidos, buscam maior aproximação - principalmente se minha roupa mostrar as pernas. Além disso e que já é um fator que me particulariza, eu escrevo no Sem Pudor e isso significa muito.  Mulher que fala de sexo tão bem deve ter seus reais atributos - devem pensar eles. Então, leio homens enviando videos e fotos de suas genitálias, leio gozos pelo fato de estar falando comigo e mais uma série de coisinhas chulas como se eu fosse um vaso de lixo e tivesse que ouvir quaisquer coisas para o próprio bem dele. Egoísmo danado, hein? Aí você pergunta: Mas nada disso é estuprar no sentido popularmente conhecido. E por que o uso desta palavra tão forte?

Estuprar é uma palavra que denota violação e nada do que eu disse acontece por meio de um consenso. Pelo contrário, são violações ao meu sexo, aos meus ouvidos e à minha mente. Com certeza, eu e todas as mulheres merecemos mais do que ouvir balelas nas ruas ou em quaisquer outros lugares. E se há casos de estupro, da forma como você conhecia - sexo realizado com violência - é inegável. E pior, vem aumentando. Mas creio que são casos com pessoas que possuem uma patologia. Afinal de contas, o estuprador não é uma pessoa dotada de normalidade.

A minha referencia de estupro e a que faz parte desta merecida campanha, desde o início do texto, vem de machismo. Este precisa aprender com os tapas da vida, com a boa resposta da mulher que, ao reconhecer seu lugar, saberá dá-lo e com a reflexão acerca de todo esse desrespeito que de longe é um elogio. O homem precisa saber o que realmente significa educação. Acredito que muitas águas ainda vão rolar. Essa publicação não conta nenhuma novidade, não tem nada de diferente do que anda circulando por aí, mas foi uma necessidade de mostrar o quanto apoio a causa. O Sem Pudor precisa se fazer presente, é claro! E você, o que acha de tudo isso que está rolando? Quais os desdobramentos de todo este alvoroço em sua vida? Compartilha com a gente! ;)


Lu Rosário

3 comentários:

Maga disse...

Lu, muito bom o texto (e a foto), como habitual, só queria tecer um comentário: estupro é, como você pontuou de maneira excelente, uma forma de violência. Precisamos desconstruir essa ideia de que só ocorrem estupros violentos, num beco escuro, à noite, com luta corporal (pensemos na cena doída de 'Irreversível' de Gaspar Noé). Grande parte dos algozes está dentro de casa: são parentes e conhecidos da vítima. Existe aquele estupro velado, que se esconde por trás da 'obrigação' da esposa/namorada coagida pra transar mediante a insistência do parceiro(por isso hoje há o conceito de 'estupro marital', aquele que é realizado pelo cônjuge), há o estupro de vulnerável (quando por exemplo um cara se aproveita do fato de a menina estar bêbada/desacordada e a estupra, ou de abusos com crianças, como se a coerção não-violenta fosse parte de um 'jogo')... Enfim. A ideia de que a mulher deve 'satisfazer o homem' (ou de que o homem deve se satisfazer a qualquer custo) está imbricada na normalidade, é patente, é aceito.
Por isso acho que não devemos patologizar o estupro: não são apenas 'maníacos' ou 'psicopatas' que estupram. O estuprador está tão inserido na normalidade que muitos não conseguem enxergar seus atos como estupro (e muitas mulheres demoram a perceber ou aceitar que o que aconteceu com elas foi um estupro). O companheiro que não aceita um 'não', o cara que incentiva a menina a beber para ela ficar 'facinha', o cara que força a barra... Esses estão nas nossas famílias, no nosso grupo de amigos. Esses são os filhos perfeitos do patriarcado.
É preciso colocar na cabeça dos 26%, 65%, 99% a ideia de que consentimento é a presença expressa do SIM, não a ausência do 'não'.

Grande beijo!

Claudio Chamun disse...

A foto ficou sensacional.

26% ainda achei muito alto.

Claudio Chamun disse...

A foto ficou sensacional.

26% ainda achei muito alto.

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