quinta-feira, 26 de junho de 2014

As linhas que traçamos


Que os relacionamentos são complexos, a gente já sabe; mas alguns chegam a comprometer os envolvidos de tal modo que o psicológico fica abalado e a vida chega a virar ao avesso. Este é o caso de uma amiga leitora. Considero-a uma mulher que sabe viver a vida, apesar do paroxismo que as circunstâncias a coloca. Com 17 anos, engravidou de um rapaz com quem havia ficado e tido sua primeira relação sexual - sabia que era algo sem futuro. Ao descobrir que estava grávida, logo conheceu outro rapaz com o qual se envolveu. Mais velho, ele propôs que se casassem e disse que assumiria seu filho como se fosse dele. E assim o fez. Uma menina linda, com olhos brilhantes e afoitos por independência, teve sua idade emancipada e o casamento realizado.

Após vinte e poucos anos, ainda estavam juntos com seus problemas como qualquer relacionamento há de ter. Ela teve outros dois filhos e constituiu uma família linda; além do mais, continuou curtindo festas e sendo, mais do que uma mãe, uma amiga que compartilhava os melhores momentos com os filhos. Cansada da vida cotidiana, resolveu tentar vestibular com o filho em outra cidade. Fizeram, passaram e se mudaram. Foi assim que minha leitora loira e linda começou a dar mais uma reviravolta em sua vida. Ao morar só, ela descobriu o gosto da independência porque não havia mais ela e o marido, mas sim, ela e o filho ou, simplesmente, ela - uma mulher para tudo o que viesse a acontecer com toda a liberdade que antes julgava ter.  

Com saudades dos outros dois filhos e do marido, bem como preocupada com a casa, resolveu voltar e conseguiu entrar em uma universidade mais próxima. Nesta volta, ele começou a exigir que ela fosse a mesma. Queria prendê-la dentro de tudo o que era antes dela ir morar fora. Não percebia que sua percepção não era mais a mesma. A leitora musa, então, percebeu que precisava dar um basta. Terminaram a relação, mas ela continuou morando com ele e permaneceram amigos, apesar das tentativas dele de voltarem.

Nesses conflitos amorosos, eis que ela se apaixonou por uma mulher e, nesta nova relação, teve que romper com os próprios preconceitos, teve medo do julgo e ainda o tem, teve que enfrentar barras quanto a família e alguns amigos. Teve que esconder-se para tantos como o faz até hoje. Neste contexto, ela amou e percebeu o quanto se deixou levar por alguém que também vestiu o escudo do seu marido, o de tentar dominá-la. Sua opção, portanto, foi se permitir ao desgaste da relação.

Hoje, a leitora está sem rumo e com duas pendências: um ex-marido e uma ex-namorada, além dos três filhos que já saíram da adolescência. Se você fosse amigo dela, o que diria? Se você fosse ela, como se comportaria?

São tantos problemas em nossa vida, são tantos destinos que a gente tenta traçar, são tantas escolhas que deveriam ser apenas uma.  Diante de tantos males ou bens, não sei. Devem ficar, em primeiro lugar, nossas metas. Precisamos ter foco e nos colocarmos, sempre, em único lugar. O amor próprio é o pilar para que tomemos os melhores caminhos. Isso não significa que devemos ser egocêntricos, nos colocarmos no lugar do outro também é uma forma de dizer o quanto de humanidade persiste em nós. Desejo, enormemente, que essa musa consiga traçar as mais corretas linhas para construir o seu castelo.


Quer fazer parte do Pudor Nenhum, contando a sua história? Escreva para sempudornenhum@gmail.com. Vou adorar compartilhar com os leitores. Aqui, a gente curte se sentir no lugar do outro. Este é mais um ato de refletir sobre a vida.

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