terça-feira, 2 de setembro de 2014

No Brasil, a violência em uma guerra particular.

Cena do documentário"Notícias de uma guerra particular"
Assisti, pela segunda vez, o documentário "Notícias de uma guerra particular", dirigido por João Moreira Salles. Assim como em outros produtos audiovisuais que já vi, parei para refletir sobre as diversas realidades que nos circundam. Algumas, inclusive, não conseguimos imaginar por estarem tão distantes do modo como vivemos - mas nem por isso devemos desconsiderá-la. 

No texto "Imagens em conflito", Moreira Salles vai falar que a violência no Brasil difere da guerra por não ter formalidade, estratégias, clareza de adversários e, principalmente, objetivos. Além do mais, as tragédias não podem ser comparadas porque cada uma possui suas singularidades "que só podem ser entendidas dentro dos seus próprios parâmetros", salienta. Diante disso, explica-se tal violência por meio da desigualdade social e da ontologia. Em outras palavras, a violência surge pela necessidade financeira ou pela autoafirmação. Afinal de contas, ao sustentar uma arma, não há como não ser percebido pela sociedade. 

No entanto, o ponto mais importante a ser discutido é a questão das imagens que circulam sobre a violência em nosso país. Em 1991, o fotógrafo Greg Marinovich recebeu o Prêmio Pulitzer por uma série de fotos que mostram um homem sendo queimado vivo. Esta imagem circulou o mundo e teve grande impacto e criticidade. É uma imagem forte, sim, mas nos faz tentar compreender o contexto histórico em que ela foi tirada e nos traz indignação. Segundo Moreira Salles, no Brasil não há esse olhar fotográfico e jornalístico: as fotos de violência são exibidas de forma desacreditada, isto é, não apresentam o conflito social em que estamos inseridos. Nesse sentido, a violência é exposta como um espetáculo ao lado de reportagens que com elas contrastam.  A grande imprensa se cala diante desse fato e a violência brasileira torna-se um gráfico estatístico que aponta quantos foram mortos em determinado período. Para ele, a violência é silenciada e, ao ser escancarada, é veiculada de modo indevido, permitindo-nos entendê-la como banal ou recusá-la. Os meios sensacionalistas são bons exemplos de como a violência não pode ser apresentada.

Além do mais, essa banalização não nos indigna mais porque também nos faltam narrativas. Não há contextualizações que nos permitam compreender tais circunstâncias, não há imagens apresentadas correntemente pelos grandes jornais - até porque não estamos acostumados a lidar com isso e, assim, talvez eles perdessem leitores. De acordo com o diretor, "Nós precisamos ter uma noção de quem são essas pessoas, de perceber a quantidade de gente que morre (...) Tudo é um pouco velado aqui no Brasil". Mostrar a violência não é necessariamente ser sensacionalista. Para sê-lo, depende do modo como o fato é conduzido e, culturalmente, não estamos preparados para refletirmos e discutirmos a questão da violência de forma séria. 

A violência, sob o meu ponto de vista, tornou-se algo que - apesar de ainda assustar muito - é banal. Ela só assusta quando está perto de nós ou quando acontece com alguém que conhecemos. Fora isso, os outros são os outros - assim inconscientemente pensamos, comentamos algo e logo esquecemos. Entretanto, se ela passasse a ser noticiada e discutida nos diversos ambientes, como seria? Viveríamos assustados todo o tempo? Conseguiríamos resolver essa situação? Creio que não. Entendê-la para buscar soluções e para estarmos mais inseridos diante dos conflitos sociais que abarcam o país é importante, mas qual seria a repercussão disso? Como nossa sociedade poderia se remodelar nesse sentido?  Este é um tema que, costumeiramente, me deixa sem palavras e o meu criticismo possui beiradas tortas. 

Agora você, leitor, como vê esse assunto? Concorda com João Moreira Salles? Sinta-se a vontade para emitir sua opinião. Lembre-se que, antes de tudo, você está no Pudor nenhum.


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