sexta-feira, 17 de abril de 2015

Marcou-me Malu


Eu não queria me sujar, acredito que nem ela. Estávamos numa festinha, junto com os amigos, e eu vestia uma roupa recém-comprada para a ocasião - daquele jeito que seguia a tendência. Ouvíamos um som dos anos 90. Um vinil tocava "Nobre vagabundo", de Daniela Mercury. A voz da cantora arrepiava-me. Esse som fazia parte da minha infância, esse chiado era o que eu mais gostava quando sozinha, em casa, ligava a vitrola e me sentava com os ouvidos atentos. Estava ali naquele lugar com gente conhecida para todos os lados e, mesmo assim, sentia-me sozinha. Ela, Malu ou simplesmente Lu, acompanhava-me. Na verdade, eu a via sempre e até sabia nome e apelido dela, mas nunca havíamos nos falado. Naquele dia, provavelmente ela estava tão sozinha quanto eu e por isso não saía do meu lado. Em minha cabeça, "respirar o amor aspirando liberdade". Na cabeça dela, sabe-se-lá o universo que existia.

Nunca senti atração por mulher alguma, no entanto, ela me surpreendia com aquele olhar fixo. Mais do que surpresa, ela me intimidava. Conversamos besteiras sobre os besteirois daquela festa única que rolava na cidade. Resolvemos comprar uma bebida e, de gole em gole, enchemos o papo de querer aproveitar a noite e desvendar uma a outra naquele escuro e naquele ninguém nos ver que rolava. Como nada nos interessava, encostar no carro para conversar seria uma ótima válvula de escape. E lá permanecemos. Não houve nada que eu lembrasse, a não ser de algo a me beijar, luzes inebriantes e prazer explorado. No dia seguinte, estava em casa. No dia seguinte, a marca e a roupa provavam tudo sobre nós. Havia ocorrido selvageria e eu conheci o gosto da fruta que me constitui. Se foi bom, não sei. Mas com certeza, fez da minha noite uma sessão única e inesquecível.



"Sou perecível ao tempo vivo por um segundo
Perdoa meu amor esse nobre vagabundo" 
Daniela Mercury



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