terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A violência verbal que as mulheres sofrem todos os dias

Ontem à noite, eu resolvi seguir do trabalho para minha casa por um outro caminho e, ao subir a rua, deparo-me com um carro que para, um rapaz sai e fica de forma suspeita na porta do carro. De imediato, pensei que fosse alguém fazendo xixi. Muitos homens acham que basta parar em qualquer lugar, colocar o pinto pra fora e urinar em qualquer lugar. Respeito pelo ambiente público e pelos pedestres passam longe. Mas, quando eu me aproximei pelo outro lado da rua, acelerei o passo e ouvi a voz sussurrante me chamando de delícia e gemendo. Concluí: a porra do homem, esse vadio está se masturbando. A esquina estava próxima, um outro carro passou em seguida e, em dois minutos, eu estava em casa xingando de raiva, com ótimo eterno deste e de toda uma multidão de homens que fazem isso todos os dias de modo a nos intimidar e violentar.

Intimidar e violentar, para eles, talvez sejam palavras fortes demais e com significados que não comportam o pensamento deles. Mas, para a gente e para qualquer pessoa com boa sanidade mental, é exatamente isso o que acontece. Quem não se sente constrangido perante alguém te olhando como quem quer devorá-lo frente aos outros ou com gritos, piadas e palavras de baixo nível seja lá onde for? Ouvir determinadas coisas é, sim, uma violência verbal a nos estuprar os ouvidos e a mente e a nos assustar. Sabe-se lá o que seria de mim ou de nós se não houvesse a possibilidade de passar alguém ali por aquela rua.




Em uma pesquisa recente, realizada nos Estados Unidos com 86 estudantes universitários, um terço respondeu que estupraria uma mulher se isso não fosse crime. Além disso ser nojento e nos provar, mais uma vez, o porquê as leis surgem e são tão necessárias, muitos desses homens não entendiam o sexo sem consentimento como uma agressão à mulher, mas sim como uma forma de provar a masculinidade. Quando li isso, coloquei a mão na boca e o pensamento foi para um longo "puta que o pariu" - sendo que esse palavrão, no meu caso, não quis fazer referência alguma à quem o colocou no mundo. Inclusive, coitada por ter filhos tão calhordas.

Quer dizer que ser másculo é forçar uma mulher a fazer sexo? Para esses homens, a mulher provoca e depois faz cu doce. Homens, a gente só provoca quem quer e dar um sorriso nem sempre é provocação, é simpatia. Sensualidade não é algo que a gente faz para ter, é natural. Usar roupa curta também não é querer chamar atenção, decote não é armadilha para atraí-los. Roupa não define ninguém, apenas mostra o quanto somos vaidosas e queremos estar e nos sentir bonitas. Se você acha diferente, sinto muito: já caiu no meu conceito e faz o favor de nem me ler mais.

Nessa hora, eu me pergunto: Cadê aquela propaganda toda do "Eu não mereço ser estuprada"? Ela deveria continuar firme e forte para continuar combatendo casos como os que me deparei. É claro que situações tais não acabam assim, mas fortalece a nós, mulheres. Moça, você precisa ter personalidade e certeza de que o errado é ele e que você pode sair por aí como quiser. Cara, quer chamar uma mulher de gostosa? Faça-o apenas para você, ela não quer saber disso. Quer bater uma? Coloque um filmezinho pornô ou ative sua imaginação e faça isso em casa.

Na pesquisa também é dito sobre o fato das mulheres ficarem mais excitadas com o perigo. Defina-me, então, o que é perigo. Uma coisa é estar com quem você gosta se aventurando sexualmente e outra é com uma pessoa desconhecida, de forma violenta e com risco de pegar todas as doenças possíveis. Cada dia me surpreendo mais com tanto desrespeito e, por outro lado, até prefiro que tudo isso venha à tona porque só, assim, a gente compreende melhor as coisas e ataca com mais gosto.

Diz aí o que você acha disso tudo porque eu, simplesmente, odeio e continuarei a atacar esses modos "másculos" enquanto me for possível. Não me rotulo como feminista, odeio machismo e tenho minha personalidade e, portanto, ideias definidas. Acredito que vivemos uma violência verbal todos os dias, somos agredidas e estupradas a todo momento. No entanto, aceito ouvir de todos os lados. Dizem que "é conversando que a gente se entende" e eu concordo com isso. Então, vamos papear.


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