segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

"Meus pais não deixam, mas eu dou um jeitinho e a gente dorme junto"


Engraçado como a gente cresce, passa pela adolescência e se torna adulta, mas nossos pais sempre pegam em nosso pé - pelo menos a maioria deles. Fica aquela coisa de observar atentamente com quem você se relaciona e de não deixar que você fique sozinha com o parceiro para evitar maiores aproximações íntimas. A filha apronta o diabo a quatro, mas às escondidas porque chega a ser proibida de viajar com o namoradinho para acampar e dormir com ele na mesma barraca, ainda que esteja em seus plenos 25 anos. E a mãe, sabe-se lá se acredita ou não, sente-se aliviada de saber que a filha permanece intacta (Afinal, a virgindade é, para muitos, o que há de mais precioso em uma mulher e, neste sentido, sinto-me um objeto. Detestável isso!)

Vindos de uma cultura tradicionalista, onde a mulher era considerada dona dos mais vastos sacrilégios por perder a virgindade antes de se casar, pais e mães acreditam que suas filhas podem ser vítimas de línguas ferinas se entregarem seu corpo a outro homem que não seja aquele com quem escolheu passar o resto da vida - partindo da premissa de que o casamento é "eterno". Essa herança, que continua em gerações futuras como as nossas, ainda é uma prova de que as coisas não mudaram tanto assim. A mulher, considerada posse dos pais, passa a ser posse do marido (triste pensar que, de uma certa forma, é assim que as coisas parecem funcionar). Para ser mais exata, a questão financeira é algo que possibilita tal prisão, principalmente no que concerne aos pais. 

Percebam que, ao escrever sobre o assunto, refiro-me apenas à mulher. O patriarcalismo permite que o homem manifeste seus prazeres enquanto a mulher deve se guardar para apenas um único homem ou ser considerada vil e tratada de modo rude, tal como acreditam que devem ser tratadas as prostitutas. Em outras palavras, nós, mulheres, ainda precisamos lutar muito para deixarmos de ser julgadas erroneamente e sermos, enfim, reconhecidas em nossa inteireza.

A possibilidade dos mau julgamentos e o instinto de proteção, advindos de machismos quase declarados, restringem a sexualidade das jovens e favorece a prática de atos escondidos e de mentirinhas mal (ou bem) contadas. O sexo, como sentimos, é algo inerente a nós e, portanto, não pode ser reprimido. A junção de dois corpos sob um beijo mais caliente faz com que nosso organismo manifeste-se a todo vapor. Difícil ficar indiferente à química que rola com o outro. Estou mentindo?

Nos tempos atuais, proibir a nossa sexualidade parece ser similar ao fato de nos considerar idiotas, visto que sabemos muito bem que existe camisinha para proteger da gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis ou outros meios anticoncepcionais, além da pílula do dia seguinte. Mas aí eu te pergunto: E por que há tantos casos de aborto e de gravidez na adolescência? Justamente pelo fato dos pais não conversarem nem alertarem seus filhos. Em vez disso, apenas proíbem. Sendo assim, todos sabemos da existência de tais meios de prevenção, mas nem todos sabem usá-los corretamente. Como eu disse, sexo é algo latente e normal entre duas pessoas que se gostam, portanto, não pode ser negado, pois não é a proibição que vai evitar com que ele aconteça.

Se um dia eu tiver filhos, vou querer deixar tudo muito claro para eles a fim de permitir que vivam livremente a sexualidade.  Acredito que seria importante intensificar as políticas de educação sexual nas escolas porque, sinceramente, pressinto que essa herança permeada de machismo ainda há de prevalecer por bastante tempo. Para amenizar isso, estarei sempre convocando as mulheres a lutarem pelo direito de vocês e a dar a cara a tapa para os/as machistas de plantão. Só indo contra eles que conseguiremos nos firmar.

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