sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Enquanto esperava ser atendida

Imagem: Algum site encontrado no Google.

Não foi de uma hora pra outra, mas eu estava doente. Consulta marcada e, enfim, dia de ir ao médico - algo que não é confortável, mas é necessário e alivia (sem dúvidas!). Naquele dia, não poderia ser diferente. Fui me sentindo uma pessoa de enfermidade maior e, ao chegar lá, deparei-me com outras realidades e refleti no quanto eu estava bem perante aquela senhora de dedos tortos por causa da doença ou daquele senhor que chegara em uma maca e entrou no consultório na cadeira de rodas com as mãos sobre um travesseiro que mais parecia seu companheiro de dores e lamentos. Assim, bate aquele pesar e todo egoísmo, que havia se concentrado, se esvai. Lugar pequeno, consultas demoradas e a espera se faz de forma incômoda porque os pacientes se olham e seus olhares parecem perguntar: Será que ele tem o mesmo que eu? Afinal, o médico era um especialista e alguns traços nele também condizem com minha doença. O não querer olhar nos olhos, a falta do que fazer, não saber onde colocar as mãos e aquelas revistas velhas que não queria mais folhear agoniavam-me e parecia agoniar a todos. Quando um olhar perpassava o outro, às vezes havia esperança de que algo seria dito até que, impaciente, perguntei: Qual o horário da sua consulta? E a partir da resposta, outra pessoa perguntou o que ela tinha e, assim, o ambiente ficou mais leve porque as pessoas conversavam entre si. Ufa, não estava sendo tão observada e a tensão era menor em cada um dos presentes.

Foi assim que lembrei de todas as vezes que fui ao hospital público e, na espera pela consulta, as pessoas sorriam, compartilhavam suas dores e queriam saber de onde você era porque ali havia pobreza, havia preocupações, havia um dia a se perder. Ali era uma capital, onde havia calor e gente esperando em casa ou noutro lugar. Havia viagem logo depois e planos para quando melhorasse ou até se não. Foi assim que comparei as realidades e percebi o quão bom seria se os comportamentos se igualassem, pois a enfermidade sempre fica mais leve quando se tem companhia. A dor deixa de doer um pouquinho quando o sorriso é esboçado e o tempo passa mais rápido em qualquer lugar que estiver. Enquanto, naquele momento, eu pensava em tudo isso, alguém saiu e o médico me chamou. Levantei me sentindo forte e sabendo que a o que tenho é só um problema a mais e pronto. 

A vida precisa ser encarada com mais despojamento, principalmente pelos que compartilham das mesmas inquietações. Só assim, tudo se torna bem mais fácil.


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